5.8.10

Cardoso versus Freyre 2

“Essa ambiguidade de Gilberto Freyre talvez esteja em todos nós”
PublishNews - 05/08/2010 -
Por Maria Fernanda Rodrigues

Preparar o texto de abertura da 8ª edição da Flip deu um trabalho “maluco” a Fernando Henrique Cardoso: ele gastou o mês todo relendo três livros de Gilberto Freyre, o homenageado da festa. Mas deixa Paraty com um novo trabalho para publicar – tanto que pulou algumas partes do texto (que você pode ler na íntegra no Estadão) justamente por isso, e por considerar a plateia um tanto diversa. Décadas depois da primeira leitura, o que chamou a atenção de FHC foi a contemporaneidade de Freyre e o fato de que ele não era aquela pessoa que só escrevia ensaios, que seu grupo de “cientistas de batas brancas” tanto criticava. “Ele tinha formação científica e domínio da literatura, não era o ensaísta que acreditávamos”. Escrevia bem e sabia contar sua história – que se lia como um romance. O ex-presidente não quis entrar na questão literária de sua linguagem. “Tenho medo de vocês”, brincou. Mas disse que ele escreve em espiral, nunca conclui, depois escreve outra obra para concluir aquele raciocínio e não o faz. “Ele transmite o que quer e mesmo não concordando, vamos na onda”, comentou. Disse ainda que a análise de Freyre é muito oscilante e que exibe preconceito em suas afirmações. “Ele abria flanco para todos os lados, tinha afirmações inaceitáveis contra judeus e contra todo mundo, usava vocabuário qualitativo e era contraditório. “Mas as pessoas são contraditórias, meu Deus. Quem não é?” Para ele, é muito fácil criticar o autor de Casa Grande & Senzala, mas não é justo só fazer isso. “Essa ambiguidade de Gilberto Freyre talvez esteja em todos nós”, disse FHC.

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