7.8.09

Euclides da Cunha: um iluminado
O Estado de S. Paulo - 07/08/2009 -
Por Milton Hatoum

Por obrigação, tive de ler capítulos de Os Sertões antes dos 15 anos. Foi literalmente um castigo, um ato de punição disciplinar de um professor de literatura, admirador do divino Marquês. No sorteio dos capítulos que seriam lidos e fichados tirei a última parte do livro, cuja leitura me fascinou. O que aconteceu em Canudos foi uma guerra de extermínio. Hoje, seria considerado um verdadeiro "genocídio". Euclides, republicano convicto, percebeu uma das faces mais bárbaras e atrozes da República, que, no entanto, usava a máscara da civilização. Positivista, crente no progresso, na justiça e nos avanços tecnológicos, o escritor viu nos seringais do Purus "a mais criminosa organização do trabalho que engenhou o mais desaçamado egoísmo". Sem dúvida, Euclides foi um gênio verbal. Para o crítico Antonio Candido, a força expressiva da linguagem, aliada a uma intuição poderosa, fazem do escritor um iluminado, muito mais que um sociólogo. Augusto Meyer notou que Euclides "dramatiza tudo, a tudo consegue transmitir um frêmito de vida e um sabor patético".

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